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Pra que serve uma Copa?

Além de dar uma acelerada no capitalismo local, e mesmo mundial, com construção de estádios, venda de bolas, uniformes, TV’s novas, ingressos, estadias em hotéis… tem a parte menos diretamente ligada à economia – mas tão importante quanto – que é a parte da ideologia…  Não é novidade, mas fica de novo a mostra de como a Copa serve para diminuir tensões sociais, acalmar populações, integrar esse erro que chamamos de nações, independente da cultura… Na Holanda, 30% vêem mau os muçulmanos, especialmente Turcos e Marroquinos… preconceito bem importante na população (sem esquecer que o Apartheid foi promovido na Africa do Sul pelos descendentes de holandeses que povoaram o país); no país Basco, nada como uma Copa do mundo que a Espanha esteja bem para acabar com os esforços de independência desse povo… Ficam aí alguns pequenos exemplos:

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São Paulo, sábado, 10 de julho de 2010 – Folha de São Paulo – Esporte

Copa atenua tensão social na Holanda

Seleção reduz rancor com imigrantes marroquinos, representados no time

MARTÍN FERNANDEZ
PAULO COBOS
ENVIADOS ESPECIAIS A JOHANNESBURGO

O sucesso da Holanda na Copa da África do Sul serve como antídoto para um dos mais graves problemas sociais do rico país europeu.
Ao obter a vaga na final, a seleção de Bert van Marwijk consegue por pelo menos alguns momentos reduzir a tensão entre os holandeses e os imigrantes marroquinos, que, somando também seus descendentes, são cerca de 400 mil pessoas -quase 3% da população holandesa.
Isso porque o time que enfrenta a Espanha amanhã, no Soccer City, tem sangue do país árabe e também gente muito próxima aos marroquinos, por opção.
O lateral direito Khalid Boulahrouz e o meia Ibrahim Afellay são filhos de marroquinos e têm dupla nacionalidade. O primeiro virou ídolo dos seguidores do time laranja por ter disputado uma partida da Eurocopa de 2008 mesmo após saber que a filha prematura havia morrido.
O segundo, do PSV, é tido como uma das maiores revelações do futebol holandês nos últimos anos.
Ambos mantêm a fé muçulmana da família.

ANTIMUÇULMANOS
Há, no entanto, uma expressiva parcela racista da população branca holandesa. Pesquisa recente mostrou que mais de 30% dos habitantes do país têm percepção negativa sobre os muçulmanos -além dos marroquinos, a outra grande comunidade na Holanda que segue essa religião é a turca.
O caso do atacante Robin van Persie é exemplar para a integração com a colônia marroquina. O atleta do Arsenal cresceu em um bairro com numerosos imigrantes marroquinos. Nunca teve problemas de integração.
Tanto que acabou se casando com a primeira namorada do colégio, uma descendente do país árabe que é muçulmana. Van Persie teria se convertido, mas nunca disse isso publicamente.
Líderes da comunidade marroquina dizem que o exemplo do futebol é benéfico para diminuir as tensões raciais na Holanda.
“O sucesso dos marroquinos no futebol facilita a integração”, disse ao jornal inglês “The Guardian” Farid Azarkan, diretor da União da Cooperação para os marroquinos na Holanda.
“Mostra para nossos jovens que é possível fazer coisas boas e balancear a percepção de que nós [os marroquinos] só causamos problemas. Mostra que nós podemos estar presentes no futebol e que somos mais do que os criminosos, como eles [os holandeses] geralmente nos veem”, disse Azarkan.
Com Boulahrouz, Afellay e Van Persie na equipe, a Holanda virou a favorita dos países muçulmanos no Mundial sul-africano. Apoio esse que é possível ser visto em sites de relacionamentos espalhados pela internet.

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Caso de racismo faz técnico proibir Twitter

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

Um episódio pouco antes de a Copa de 2010 começar mostra que também no futebol a questão marroquina na Holanda é bastante tensa.
Os jogadores de um dos finalistas do Mundial foram proibidos de postar mensagens no Twitter durante a competição por causa de uma denúncia de racismo contra os imigrantes do país árabe por parte de um atleta.
O acusado foi o atacante Elijero Elia, flagrado na internet tecendo comentários racistas sobre os marroquinos enquanto jogava videogame com outros atletas.
A reação da comunidade marroquina foi forte, obrigando Elia a se desculpar publicamente e causando o veto do técnico Bert van Marwijk a sites de relacionamento durante a Copa-2010.
Em sua defesa, o jogador declarou que apenas brincava com um velho amigo.
Além de pedir desculpas, Elia tratou de citar seu passado para se defender.
“Quero pedir desculpas à comunidade marroquina. Eu não sou racista. Eu cresci em um bairro onde 75% da população é marroquina e tenho muitos amigos lá”, afirmou Elia, que é negro.
Em outras Copas do Mundo, a cor da pele também foi motivo de polêmica na seleção holandesa.
(MF E PC)

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Políticos bascos pleiteiam que seleção jogue lá

EM BARCELONA

A campanha espanhola reviveu o embate nacionalista no País Basco, de histórico recente mais violento que o da Catalunha.
Enquanto as TVs mostram que há bandeiras da Espanha e festa (modesta) no centro das principais cidades, alguns partidos aproveitam para atacar o independentismo.
“O nacionalismo basco está nervoso e preocupado, pois passou 30 anos dizendo a jovens bascos que isso não era Espanha”, disse o presidente do PP basco, Antonio Basagoiti. “Tudo vem abaixo com a Eurocopa e o Mundial.”
Alguns partidos querem que a seleção jogue na região, onde não atua há mais de 40 anos, seu primeiro jogo pós-Copa. A última exibição foi em 31 de maio de 1967, em Bilbao, antes do ápice do terrorismo separatista basco, liderado pelo grupo ETA.
Nesta semana, em Navarra, um jovem que levava a camisa espanhola foi apunhalado durante o Festival de San Fermín. A polícia suspeita de grupos independentistas bascos.
Apesar de a seleção ter três bascos (Xabi Alonso, Fernando Llorente e Javi Martínez), um prefeito nacionalista local disse que torceria contra a Espanha.
Já o presidente do seu partido, Íñigo Urkullu, foi mais comedido. “Que ganhe o melhor no domingo. Se a seleção espanhola vencer, felicidades.”
(RD)

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10/07/2010 – Do UOL Copa do Mundo

Campanha e possível título animam Espanha em combate à forte crise econômica

Do UOL Esporte
Em São Paulo

A Espanha vive um dos piores momentos econômicos de sua história, ainda em decorrência da grave crise mundial iniciada em 2008. Neste contexto, a campanha da Fúria na Copa do Mundo pode garantir, além de alento para a população, um forte impacto na economia do país.

Historicamente, o campeão consegue um impulso de movimentação financeira. Em 2006, a empresa de consultoria KRC estimou, em uma avaliação encomendada pela Mastercard, que o país vencedor da Copa consegue benefícios superiores a 50 milhões de euros.

A Espanha hoje convive com uma elevada taxa de desemprego. Cerca de 20% da população ativa está sem trabalho, e a popularidade do Partido Socialista (PSOE), que está no governo, despenca vertiginosamente. No início do ano, o Banco Central local divulgou que o país somou seu sétimo semestre seguido de recessão.

“[A ida da Espanha à final] vai ser boa para elevar a auto-estima e a confiança do país. Foi importante ganhar, mas foi igualmente importante a maneira como jogamos”, disse José Luis Rodríguez Zapatero, chefe de governo espanhol, em entrevista à rádio Cadena Ser.

A despeito de todos os problemas, a seleção comandada por David Villa já conseguiu alguns resultados econômicos. Segundo o jornal AS, a Adidas já vendeu 1 milhão de camisas da Espanha em todo o mundo.

O resultado põe a Fúria no time das mais rentáveis da marca, já ocupado por Alemanha e Argentina, por exemplo. A empresa acredita que conseguirá um retorno de 1,5 milhão de euros (R$ 2,22 milhões) com sua divisão de euros, somente nesta temporada.

Outras patrocinadoras da Espanha também acumulam popularidade e receitas, apesar das contas a pagar. O Banesto, um banco de crédito local ligado ao Santander, por exemplo, terá de gastar cerca de 10 milhões de euros (R$ 22,2 milhões) em caso de título no domingo.

Antes da Copa, o banco prometeu que aumentaria o rendimento de uma modalidade de investimento de 3% para 4%, o que explicaria a despesa extra. O banco Sabadell fez o mesmo, mas não terá de gastar nada graças a um seguro firmado antes da promoção.

“Estaremos duplamente encantados se isso acontecer. A seleção se impõe e os clientes obtêm um aumento de rentabilidade”, disse a entidade, em resposta oficial ao jornal AS.

Além das instituições financeiras, Carrefour e Toshiba são outras marcas que terão de cumprir promessas feitas à torcida. A rede de supermercados distribuiu 10 mil vales de 100 euros cada (R$ 222) entre seus clientes para serem gastos em caso de título. Já a marca de eletrônicos reembolsará compradores de televisões e celulares que tenham sido registrados em seu site oficial de abril a junho.

Xenofobia, EUA e esporte…

Tem muito em comum! Mais um exemplo de como a política e o esporte se misturam e de como quem lida com o esporte pode intervir e influir politicamente no mundo…

19/5/2010

Esportistas se insurgem contra lei anti-imigrante

Promulgada pela governadora do Arizona, norma revolta atletas latinos e dirigentes de basquete, boxe e beisebol

Se a polícia do Estado julgar que alguém se comporta de modo suspeito, pode fazer a autuação, e contratação de clandestino também é crime

DANIEL BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL  – Folha de São Paulo

Uma nova lei anti-imigração, promulgada no último dia 23 pela governadora republicana Jan Brewer, colocou o Estado do Arizona, no sudoeste dos Estados Unidos, no centro de um acalorado debate nacional.
E provocou reação fervorosa de diversos setores da sociedade, principalmente no esporte.
A partir de julho, será delito estadual a falta de permissão legal para estar nos EUA. A lei ainda amplia a autoridade da polícia local para fazer cumprir as regras migratórias e sanciona quem contratar, transportar e alojar clandestinos.
Seria uma maneira de evitar o crescimento nas estatísticas de travessia ilegal na fronteira com o México. A patrulha norte-americana anunciou que neste ano houve um crescimento de 6% no número de imigrantes ilegais na divisa.
Qualquer pessoa que a polícia considere agir de forma suspeita pode ser autuada. Os latinos levantaram-se contra a lei.
Quase 30% da população do Arizona é da porção sul do continente, segundo censo divulgado três anos atrás.
O time de beisebol do Estado, o Arizona Diamondbacks, foi alvo de protestos em jogo pela MLB (Liga Nacional) no Estado do Illinois. Quarenta pessoas foram ao estádio Wrigley Field, em Chicago, com faixas pedindo que as empresas boicotem o Arizona. “A gente já esperava essa reação”, admitiu o técnico visitante, Andrew Jay Hinch.
Jose Sulaiman, presidente do WBC (sigla em inglês para Conselho Mundial de Boxe), divulgou nota pedindo que os mexicanos evitem lutar no Arizona.
O Phoenix Suns, da NBA, trajou uniforme diferente no segundo jogo da semifinal da Conferência Oeste, em 5 de maio, contra o San Antonio. Em vez do nome “Phoenix” estampado na altura do peito na camiseta, lia-se “Los Suns”.
Era uma homenagem à data, que marca a vitória mexicana na Batalha de Puebla, contra a invasão francesa. Era, também, um protesto velado contra a promulgação da lei, que é chamada de SB (Senate Bill) 1070.
O curioso é que o único jogador de origem latina no time é o paulista Leandro Barbosa, o Leandrinho. Em comunicado à imprensa, Robert Sarver, dono do time, informou que tratava- -se de uma justa homenagem aos latinos do Arizona.
Setores da imprensa da Califórnia pediram que o Los Angeles Lakers, adversário do Phoenix na final da Conferência Oeste, protestasse. O Estado faz divisa com o Arizona e tem alta concentração latinos.
O técnico da equipe, Phil Jackson, no entanto, movimentou-se no sentido contrário. “Estou ficando maluco ou a lei do Arizona pede apenas que se aplique em âmbito estadual as normas nacionais?”, indagou ele, indiferente.


Com agências internacionais

frase

“Imigrantes são workaholics. Os Estados Unidos não conseguirão viver sem eles”
OZZIE GUILLEN
técnico venezuelano do Chicago White Sox

EM 2011:
JOGO DAS ESTRELAS PODE SER MUDADO
A Associação dos Jogadores da Liga Nacional de Beisebol pede que o All-Star Game- -2011, previsto para o Arizona, seja realizado em outro Estado, como protesto. Em 1992, o Arizona perdeu o direito de sediar o All-Star Game da NFL por não considerar o Dia de Martin Luther King como feriado nacional.

Para STJD, cusparada é pior que ofensa racial

6/5/2010

DA REPORTAGEM LOCAL – Folha de São Paulo

Para o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), cuspir na cara do adversário dentro de campo é mais grave do que chamar o rival de “macaco”. Essa é a principal conclusão do julgamento dos zagueiros Danilo, do Palmeiras, e Manoel, do Atlético-PR.
Os dois foram julgados pelos incidentes em jogo válido pela Copa do Brasil, no mês passado.
Na ocasião, o palmeirense chamou o atleticano de “macaco” e cuspiu na sua cara. Manoel deu uma cabeçada em Danilo e também o pisou quando ele estava no chão.
Ambos foram suspensos, sendo que, para os auditores do STJD, a falta mais grave foi a cusparada. Primeiro a votar, o relator José Teixeira a classificou como “ofensa gravíssima” e pediu seis jogos de suspensão para Danilo por isso. Já o xingamento racista foi qualificado por ele como “ofensa grave”, com cinco partidas de pena.
Já o auditor Nicolao Constantino teve avaliações ainda mais discrepantes sobre as duas coisas feitas por Danilo.
Ele também pediu seis jogos de suspensão para o zagueiro pela cusparada. Mas não viu “discriminação racial” nas palavras do palmeirense e pediu só dois jogos de pena para o palmeirense pelos xingamentos.
A maioria dos outros auditores, porém, seguiu o relator, e Danilo acabou levando seis jogos pelo cuspe e cinco pelas ofensas endereçadas a Manoel, que recebeu pena mais leve -uma auditora disse que seus atos “deveriam ser pesados como reações a ações graves”.
O zagueiro do Atlético-PR levou um gancho de quatro jogos.
O advogado do Palmeiras tentou adiar o julgamento, alegando que Danilo não estava presente, já que jogaria ontem pelo clube contra o Atlético- -GO, pela Copa do Brasil.
Mas o presidente da sessão não aceitou seu pedido.
O Palmeiras apresentou então um vídeo com Danilo se defendendo, reconhecendo que perdeu a cabeça e que fez “besteira”. A defesa do clube paulista ainda alegou que o jogador tem “origem negra” e que a injúria racial não fica caracterizada no “calor do momento”.
Presente no julgamento, Manoel negou que tenha dado uma cabeçada em Danilo.
Ele disse que apenas “encostou a cabeça” no adversário. E que foi xingado várias vezes, incluindo algumas em que foi chamado de “macaco”.
O caso entre os dois jogadores também vai para a Justiça comum, mas ainda sem prazo definido para julgamento.